Feito apenas de cupuaçu, o chocolate amazônico possui muitos benefícios para a saúde e gera valor para manter a floresta amazônica de pé.
Por: Lenah Sakai | Green Business Post | 11 abril 2023 | Google News | Youtube.
Criado pela comunidade amazônica, o cupulate é um chocolate feito apenas do caroço do cupuaçu, não há cacau envolvido. Ele é um produto promissor devido ao sabor, aos benefícios fisiológicos do fruto e ao processo produtivo mais sustentável.
Benefícios para a saúde
O Cupuaçu é parente próximo do cacau, podendo ser conhecido como cacau branco. Os dois são nativos da região amazônica, mas, na atualidade, o cacau amazônico é um nicho bem específico comparado ao cacau produzido na África, conhecido pelos escândalos de trabalho forçado e infantil.
A principal diferença do cacau e do cupuaçu está na sua composição altamente nutritiva. Ele é fonte de: carboidratos, fibras, flavonoides, carotenoides, vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina), vitamina C e minerais, como o ferro, cálcio e fósforo.
Seus benefícios à saúde se resumem em:
- Aumento da imunidade: auxilia na proliferação de células de defesa, potencializa o processo de cura em cicatrização, fraturas, contusões e sangramento de gengivas;
- Manutenção do transporte de oxigênio no corpo e respiração celular;
- Alto poder antioxidante: previne câncer, tumores, envelhecimento precoce, previne doenças no sistema cardiovascular, circulatório e nervoso;
- Estímulo à produção de colágeno: dá firmeza e elasticidade à pele;
- Manutenção da saúde óssea, dentária, ligamentos e tendões: prevenção de osteoporose e osteopenia;
- Auxilia no funcionamento do intestino: previne dores abdominais;
- Bom para a vista: previne a cegueira noturna;
- Auxílio no metabolismo energético, de carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos.
É fonte de energia
Diferente do cacau, ao invés de possuir a cafeína (que causa reações adversas em parte da população), ela é rica em teobromina. Esse estimulante é um vaso dilatador, reduz a pressão sanguínea, ajuda a dar energia e deixar o organismo mais ativo e em alerta. Isso é ideal para praticantes de atividades físicas.
O cupuaçu brasileiro é promissor
De tão promissores que o cupuaçu e cupulate são, eles já foram parte de disputa internacional entre a comunidade amazônica brasileira e uma empresa japonesa. Sendo uma fruta nativa do Brasil e fazendo parte da cultura, história e segurança alimentar local, o direito de patente e exploração comercial do cupuaçu e cupulate permaneceu em suas origens.
Com essa vitória, a Embrapa pode potencializar o desenvolvimento da fruta e de seus produtos. Desde o melhoramento genético, o cultivo em agrofloresta ao aprimoramento do estado de conservação do fruto após colhido e transformado.
O cupuaçu cultivado já é resistente à doenças como a vassoura de bruxa, sem ser necessário o uso de defensivos agrícolas. Isso possibilitou ser rentável para agricultores, e assim, diversos produtos puderam ser apresentados ao mercado (bebidas, barrinhas, cremes, doces, geleias, balas, vitaminas, sorvetes, produtos de beleza e outros).
O cultivo sustentável do cupuaçu
O cupuaçu faz parte da mata nativa amazônica. Ela é extraída por locais, organizados em associações, e eles valorizam a preservação da floresta amazônica.
Mas ela também pode ser cultivada. A cultura do cupuaçu é uma das mais populares e importantes da região amazônica. Ela é fonte de renda e possibilita a segurança alimentar para os locais.
O perfil dos agricultores evita o trabalho forçado, escravo e infantil. Eles são compostos de, principalmente, pequenos e médios agricultores familiares locais. Dentre eles, temos de comunidades indígenas, caboclas e ribeirinhas.
Já o processo de cultivo é mais ecológico. Por necessitar de sombreamento em seu estágio inicial, o cultivo agroflorestal é o mais adequado para o cupuaçu. Seu cultivo não demanda da intervenção de fertilizantes artificiais. Então os fertilizantes naturais são favorecidos. E o combate de pragas já começa na escolha da muda com a genética resistente ao ‘vassoura de bruxa’. Já a ‘broca de ramos’ não possui defensivos. Ela pode ser combatida com formigas predadoras naturais ou remoção manual.
E, por fim, existe a oportunidade de neutralização de carbono. As plantas capturam o carbono da atmosfera durante o processo de fotossíntese durante toda a sua vida. Por ser uma árvore, o cupuaçu tem grande absorção durante sua fase de crescimento, armazenando o carbono em toda a sua estrutura que pode atingir até 15 metros de altura.
O chocolate amazônico
Um dos produtos, atualmente, em ascensão, é o chocolate do cupuaçu. Conhecido como cupulate, é feito a partir do caroço do cupuaçu. Sua receita foi criada pela comunidade amazônica e é transmitida de geração em geração. De forma artesanal, ela se difundiu localmente na forma de bebida.
Atualmente, no mercado, ele pode ser encontrado em pó ou em tablets e seus formatos se resumem a: branco, meio amargo e com leite.
Por ser um chocolate, produto de alta predileção dos consumidores, o cupulate é dos produtos mais promissores para desenvolver a economia e preservação da região amazônica.
Sua experiência degustativa é única. Menos resistente que as barras de chocolate comuns, o cupulate quebra mais facilmente sem aquele estalo e derrete mais rapidamente na boca. Com textura aveludada e cremosa, o sabor é uma mistura cítrica, amendoada e amadeirada.
Na atualidade, duas empresas se destacam na produção do cupulate. Cada qual aprimorou a receita do chocolate e estão há quase dez anos no mercado. Temos a baiana Amma Chocolate e a amazônica De Mendes.
O empreendedor da Amma Chocolates, Diego Badaró, valoriza e segue as práticas de Ernest Götsch, suíço especialista em regeneração de terras degradadas. A Amma foi a pioneira no chocolate de cupuaçu industrial e produz na forma orgânica. Para ela, ao fazermos parte de um sistema, somos um, e devemos possuir uma relação mútua de troca, sabedoria e união.
Já César de Mendes, empreendedor da De Mendes, está bem engajado na gestão de suas comunidades, organizando e participando de eventos para disseminar o ecossistema do chocolate amazônico. Agora ele sonha grande.
Com a experiência de ver seus clientes desistindo de levar chocolate para encomendar apenas o cupulate, para ele, o novo produto já se provou no mercado e está pronto para ganhar escala como o açaí. O desafio é competir com o chocolate de cacau, que há cem anos encanta o paladar global. Na visão dele, criar a identidade do cupulate sem atrelar ao de seu primo cacau é chave para seu sucesso.
Qual é o trunfo do cupulate?
Apesar do desafio de enfrentar o chocolate de cacau, o cupulate não é o único que concorre com ele. Empreendedores na Europa desenvolveram o chocolate de laboratório, que também não tem cacau. Por lá, a ideia é evitar essa fruta devido ao aumento de seu preço e utilizar de novas tecnologias para aprimorar o potencial nutritivo.
Então o cupulate não está sozinho nessa jornada. Talvez junto com os chocolates de laboratório eles possam fortalecer uma nova tendência, a de produtos diferenciados. O mercado já está se acostumando com os inúmeros produtos para o público vegetariano e vegano. Sem animais e seus derivados, temos a coxinha de jaca, a carne soja, os plant-based. Isso favorece a redução da estranheza pela introdução de novos chocolates.
Além disso, a preservação da Amazônia é um chamado conhecido no mundo todo. Essa onda é oportuna para o cupulate surfar. A produção mais sustentável e o trabalho decente do cupuaçu fazem parte dos objetivos da ONU e princípios do Pacto Global. Ou seja, estão dentro das expectativas de sustentabilidade empresarial.
Isso significa que empresas que buscam aprimorar suas práticas ESG poderão ser grandes parceiras desse chocolate amazônico. E consumidores mais conscientes terão mais uma opção de fazer parte de cadeias de impacto socioambiental positivas.
Ex-atleta, green fellow (vegetariana, minimalista), trabalhando duro para tornar as organizações, os maiores impactadores do planeta, mais responsáveis.
Formada em administração pela PUC-SP, há +10 anos atua em negócios e sustentabilidade. Fundadora do Green Business Post, co-fundadora da Ignitions Inc., do movimento Cultura Empreendedora, do DIRIAS, 1ª associação de direito digital do Brasil e da ABICANN, 1ª associação das indústrias de cannabis do Brasil. Hoje é gestora de uma rede de 5 milhões de pessoas do ecossistema empreendedor nacional e internacional.
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Fontes: BBC, Uol,Embrapa-1, Embrapa-2, Embrapa-3, Embrapa-4, Ge, Associação Brasileira de Agroecologia, Globo Rural, AgroPós, De Mendes